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VIDA E PALAVRA

por Daniel Moura

“Não há nada como um sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.” (Vitor Hugo)


Há mais de 150 anos, ao escrever essa frase, o poeta francês

já previa que o futuro dependeria de homens e mulheres com coragem de sonhar.

Ele viveu em tempos difíceis, em que os sonhadores eram tidos como

visionários e utópicos. Mas, como grande sonhador que era,

sabia que só as cores de um sonho poderiam transformar

a realidade acinzentada daqueles dias.

Somos herdeiros de sonhadores, frutos de sonhos.

Utópicos pais de nosso tempo foram os construtores

do mundo em que vivemos.

Por isso, essa incrível capacidade de sonhar,

essa força interior que nos faz inquietos, insatisfeitos,

inconformados com o presente, olhos voltados para o futuro.

Raça de sonhadores é o que somos.

Este é o legado que deixaremos aos nossos filhos e netos.

Sonhar é inventar o dia,

fazer brotar a flor que se transformará em fruto,

plantar margaridas no outono para vê-las desabrochar na primavera.

Os sonhos nos constroem, nos criam, nos recriam e,

paradoxalmente, nos acordam para a realidade.

Ser realista é sonhar primeiro,

conceber a vida antes mesmo de vivê-la... e vivê-la.

Como a vida nos cobra a vida!

Ao nos dar de presente apenas o presente,

o universo inteiro torce para que aproveitemos a realização dos sonhos... vivendo.

Porque já é nosso o momento presente, porque nos pertence,

precisamos sorver da vida tudo o que ela pode nos dar.

Cada um de nós tem o poder de viver plenamente o dom recebido.

Poder inalienável, intransferível.

Vida única, construída aos poucos.

Obra única, esculpida por um só artista em uma só vez.

Mas para dar vida a esta obra prima que somos,

é preciso ter perspectiva de eternidade em cada momento,

uma consciência de ser parte de um projeto maior que a própria história,

um projeto de amor que transcende os dias,

os tempos, a vida.

Isto é celebrar...

Daniel Moura


(24º Encontro da Feliz Idade)

  • Daniel Moura

“É preciso olhar para as estrelas e não para as feridas.”


Sófocles, dramaturgo grego que viveu há mais de 400 anos antes de Cristo,

dizia que ninguém ama tanto a vida como a pessoa que envelhece.

Mas, por muito tempo, prazer e bem estar foram considerados privilégio da juventude. Hoje se sabe que amor à vida e à felicidade é patrimônio de todos nós,

e não depende da idade que temos.

Na verdade, vivemos em um tempo iluminado, repleto de oportunidades das mais variadas para que as pessoas possam se realizar e ter uma vida longa e feliz.

A única condição é superar os limites que nos são impostos ao longo da vida.

Se não ficarmos vigilantes, tudo nos limita: Hoje, um compromisso “inadiável”; amanhã, uma dor que nos impede de sair de casa.

Em um dia, estamos cansados, está frio, chove lá fora;

no outro, as lembranças do passado nos atormentam e nos entristecem.

Quantas pessoas deixam de fazer o que gostam por razões sem muita importância,

e depois se arrependem.

Outras tantas se escondem por trás de motivos aparentemente justificáveis,

mas reforçados e alimentados pelo medo de ser feliz,

pelo sentimento do “eu não mereço”,

tão comum nessa geração criada com tantos “nãos”, tantos limites...

E ainda há aqueles que, no primeiro obstáculo, desistem de viver grandes momentos, deixam a intolerância e a impaciência tomarem conta,

darem as ordens, comandarem a vida.

Um avião que cai, uma gripe que se avizinha, os efeitos do “El Niño”...

Tantos são os motivos que nos ameaçam, nos prejudicam,

nos fazem perder instantes de contentamento e felicidade!

Eles passam sem pedir desculpas pelo estrago.

E ficamos com aquela triste sensação

de quem não nadou no mar do amor por medo de se afogar.

Estudos recentes mostram que, além de uma alimentação saudável,

da prática de exercícios físicos e do cuidado com a saúde,

a convivência social é um grande reforço que temos para manter-nos jovens e felizes. Nossa felicidade não está nas coisas que conquistamos,

mas nas relações afetivas que estabelecemos

e naquelas que estão à nossa espera.

É no outro que mora a nossa felicidade.

Mas é preciso sair de si, ir ao encontro, buscar a proximidade,

superar os limites da dor, da acomodação, da tentação de desistir.

Daniel Moura


(23º Encontro da Feliz Idade)


“O homem está condenado a ser livre.” (Sartre)


Tão procurada por países e povos ao longo da história,

tão desejada por prisioneiros do corpo e da alma,

a liberdade talvez seja o que motivou a maioria das guerras

já produzidas pela humanidade e as maiores conquistas

que o homem já realizou na face da terra.

Quantos sacrifícios já foram feitos em nome dela

e quantas prisões construídas para preservá-la...

E ela continua fugidia, escorregadia e leve

como uma pluma ao vento.

Buscada do lado de fora, quando estava dentro.

À espera de uma metáfora, não de um lamento.

Todos os grandes líderes da nossa história

fizeram dela sua bandeira,

mas nem todos souberam cantar o seu hino.

Porque a liberdade é muito mais

do que arrebentar as grades da prisão,

receber carta de alforria, fugir do opressor.

A verdadeira liberdade nasce na alma e se reflete na vida,

para a qual o corpo é apenas o andor.

Liberdade rima com perdão.

Como ser livre se a memória está presa ao passado,

se o coração está aprisionado em mágoa e ressentimento?

Como ser livre se o hoje estiver encarcerado

na expectativa de realizações futuras?

Liberdade é para ser degustada no presente,

como um doce gostoso de saborear, uma fonte real de energia.

Liberdade rima com desapego.

O pior inimigo de minha liberdade sou eu mesmo,

escravo de minhas lembranças e frustrações,

desejos vazios de coisas corruptíveis pelo mofo dos tempos, gastas pela espera de um amanhã que não chega.

É preciso soltar as amarras que nos prendem no chão da tristeza, do egoísmo e da solidão,

para voar no céu da convivência fraterna,

da comunhão e da participação

na vida de milhares de seres embriagados de luz.

Liberdade mesmo, aquela que liberta para a felicidade,

é arrancar as correntes do medo que nos paralisa

e nos impede de amar...

Daniel Moura


(22º Encontro da Feliz Idade)

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