Existe um sulco dentro de mim
como uma fenda num solo árido
de uma planície.
Machuca muito
dói muito.
Há sempre uma alegria
que compense esta ferida
feita de feridinhas distintas.
Mas cada tristeza que vem
a aumenta um pouco
e intensifica a dor.
A cada esperança
de um sol novo e só
há uma esperança
por uma desesperança
por uma nuvem escura
por outra nuvem escura
e mais . . .
Para todo verão
um inverno.
E não há jeito
não há maneira de dizer
que preciso de tratamento
de um engenheiro
porque sou terra nova.
Com o esquecimento
a monotonia de mim mesmo
a fenda se alargando com as erosões
tristeza maior
alegria menor
gente pisando sobre mim...
eu sempre abaixo dos olhos.
Quando vier o engenheiro
serei um abismo
e no meu colo
passará um rio
que lavará a minha alma
e carregará para o mar a minha dor. . .
Daniel 18/12/1974