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  • Daniel Moura

Meu Cristo na cruz


Você me olha, filhinho,

e sente pena, eu sei.

Esta coroa que fere minha fronte

perturba você.

Ela faz brotar gotas de sangue

que descem pelo meu rosto

e caem dentro do seu coração...

Você fica penalizado, não é?,

como se sentisse a minha dor.

Os meus olhos tristes,

cheios de uma amargura mortal,

profundos e significativos,

dão-lhe a impressão

de que estou a lhe vigiar

e a pedir verdade

e a pedir amor...

Quantas vezes o meu semblante

sofrido e angustiado

fez você chorar!

E ficou só nisso, não foi?

Quantas vezes, filhinho,

minha tristeza passei pra você,

para que sentisse coisas mais

que simplesmente pena

da minha Paixão.

Mas você não entende...

Você não entendeu nada!

Saiba, filhinho,

que eu também,

e você nem imagina o quanto!,

eu também fico muito triste

quando vejo você e seus irmãozinhos

se maltratarem,

fazendo de degraus uns aos outros,

como se não soubessem

que a escada que os traz a mim

é feita, não de seres humanos,

mas de obras e boas ações.

Não se esqueça, meu filho,

que nesta escada humana

eu estou em cada degrau...

E você está pisando em cima de mim.

Eu choro muito, filhinho,

quando você passa por seu irmão

caído na rua

e não se conscientiza desta irmandade,

pela mulher de quem você compra

momentos fúteis e degradantes,

pelo doente

que você não socorre,

pelo amigo que,

o invés de mãos

você lhe dá luvas,

deixando-o só nos momentos difíceis.

Estes espinhos, sim,

doem muito!

Sabe porque, filhinho,

eu choro

e você também?

Porque são novos Cristos

que você crucifica,

sou eu crucificado outra vez

em cada um deles

- uma eterna sexta feira da Paixão...

Você entende agora, filhinho,

porque só você pode apagar

este meu semblante triste,

este meu eterno angustiar na cruz?

Lava o meu rosto.

Tira este sangue dos nossos corações,

Por favor...


Daniel 22/03/1976

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