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  • Daniel Moura

Sombras

Quando o caixão passou na avenida

as pessoas olharam ansiosas

por ver uma lágrima

ou um milagre.

E no meu coração

só a música funesta habitava.

Eu não sabia porque

as pessoas olhavam

e esperavam.

Não há o que olhar,

nem o que ver.

Nada de esperanças. . .

Tudo é triste nessa procissão,

mas tudo vazio também.

O caixão passava

e as pessoas

(múmias arrependidas)

se perdiam.

Eram faces ansiosas

e uma cara sem face.

Eram comentários

risinhos e choros

em torno de uma mudez

desconcertante.

Eram perguntas

sem respostas.

O caixão passava

E as pessoas perdidas. . .

Ninguém ressuscitou.

E aquela música tocando no meu coração

e como sombras negras

me encerravam no anonimato.

Quando o caixão passou na avenida

as pessoas olhavam ansiosas. . .

Era eu que morria

e elas não sabiam. . .


Daniel Moura (1976)



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