Cai o martelo
em madeira e prego
e prega a alma
na esperança morta
de ganhar o pão
por um só dia.
A cada dia
o suor escorre
pelo rosto afora
e lembra a casa
a fome
o frio
o filho
e só se angustia.
A marmita chega fria
tão vazia
dos anseios da manhã
e o angu não desce
o feijão carece
e a dor esquece
que a vontade é vã.
Quando a tarde vem vermelha
já é tarde em rubro rosto
e ao sol posto
encosta o corpo
na ilusão
encontra o copo
e vai cantar o seu lamento.
Vem o filho e faz presença
no seu colo tão cansado
e a mulher como o sonhar
acaricia o seu amado
e o coitado não aguenta
e se arrebenta
de chorar.
O carinho lá por dentro
já não pode saciar.
E ao deitar sem sono e só
lembra o vale, o armazém,
a conta
o leite
o pouco pão.
E sonha
com fantasmas e com bruxos.
E acorda
chorando aos pés do seu patrão.
Acabou.
Serás agora o que quiserem
que tu sejas.
Daniel