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  • Daniel Moura

Vida e Morte

“Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”.

A frase acima, do teólogo francês Teilhard de Chardin, faz todo o sentido quando tratamos da vida e da morte. Se vivermos numa perspectiva finita, com começo, meio e fim, a vida poderá ser encantadora, mas a morte, aterrorizante. Por outro lado, se possuirmos uma dimensão de eternidade, tanto para trás como para frente, esta vida poderá ser mais encantadora ainda, por sabermos que, em algum momento, estaremos livres definitivamente das dimensões que nos aprisionam: dor, alegria, tristeza, prazer, paixão, doença etc. Voltaremos para casa após termos experimentado a vivência neste mundo, com uma complexa rede de relacionamentos entre as criaturas, que nos fez crescer, aprender e mudar.


Enquanto estivermos vivendo esta vida na terra, teremos dois limites claros: o tempo e o espaço. Quanto ao tempo, não poderemos voltar ao passado, que é história. Se ele não nos serviu como experiência, aprendizado, não terá mais importância nenhuma. Se foi útil, ficará na memória para nortear o presente. Não podemos também viver o futuro, pois este é mistério. Em relação ao futuro, o que nos resta é sonhar. E mesmo o sonho não acontece no futuro, ele é vivenciado e desfrutado no presente. Por isso, o mais seguro é o foco no presente. O presente é dom, é graça, é algo inalienável, e é o único bem que possuímos verdadeiramente nesta vida. Nada mais é nosso. O risco, contudo, de viver só para o presente é o hedonismo. É o imperativo ou a urgência da satisfação de todos os nossos desejos no agora. Viver só para o presente não liberta; ao contrário, escraviza. Ficamos reféns do que conseguimos conquistar instantaneamente e perdemos a perspectiva do todo, o que, frequentemente, nos causa ansiedade e infelicidade no futuro. O outro limite, o espaço, também tem seu papel escravizante: estamos aqui. Nem lá, nem acolá. Aqui. Não podemos – pelo menos, na realidade que nos é dada conhecer – estar em dois lugares ao mesmo tempo, nem nos transportarmos para outros locais de forma instantânea. Não atravessamos paredes nem nos teletransportamos.


Nesta perspectiva, a morte deixa de ser algo tão assustador para ser uma libertação. Em que pese o sofrimento que comumente antecede essa “passagem” para uma nova dimensão de vida, aquele que parte está rompendo os limites, ultrapassando fronteiras, nascendo de novo. É um novo parto, agora, para uma dimensão mais definitiva.


O paradoxo entre a vida e a morte se estabelece para os que vivem, porque estamos constrangidos pelo tempo e o espaço e sentimos a dor da separação, a saudade, a necessidade de reter (ou o medo de perder). Um exercício simples de desapego seria tentar ver as coisas da perspectiva daquele que parte, não do que fica. Nesse sentido, a nossa cultura ocidental ainda tem muito a aprender. Há pouco espaço, em nosso mundo, para a reflexão, para a observação das realidades intangíveis, pois vivemos em uma sociedade materialista e muito preocupada com a posse, com o ter, com a realidade palpável, mensurável e comprovável.


Hoje, mais do que nunca, quando os avanços tecnológicos nos dão a sensação de que tudo podemos, tudo compramos, e que os valores são aqueles estampados nas vitrines, nas telas das TVs e na Internet, precisamos buscar o sentido da vida para entender o mistério da morte. Enquanto estivermos focados no ter e não transcendermos para o ser, jamais entenderemos que toda essa maravilha multicolorida em que estamos inseridos, “esta longa avenida de gás neon” a que chamamos vida, não passa de ilusão.


Viver aqui e agora como se fosse nosso último e derradeiro destino é deixar de desfrutar o presente como um dom. Viver o presente em plenitude, tendo os pés no chão e os olhos no horizonte, é gozar toda a maravilhosa oportunidade de existir. A experiência pela qual passamos nesta dimensão terrena é preparação para um retorno à morada primeira/original, para onde iremos crescidos e evoluídos e repletos de humanidade. Como deveremos nos preparar? Buscando o sentido da vida, a missão escondida por trás das aparências, com toda a ressonância humana que nos leva a compartilhar o caminho com os nossos companheiros na estrada, curando feridas, valorizando momentos, celebrando emoções, estreitando laços, distribuindo abraços.


Precisamos florescer onde fomos plantados. Não estamos aqui por acaso, mas porque fazemos parte de um plano de amor maior que a própria vida. Por isso, não podemos temer a morte ou a dor da perda. A palavra chave deverá ser esperança, não mais saudade. A fé, a iluminar o caminho, nos dará a certeza do rumo certo. E o sentimento só poderá ser o amor, não mais o medo, pois é o amor que nos cria e recria a cada momento, que dá sentido a tudo o que fazemos, à vida e à morte. Dele viemos e para ele voltamos.


Daniel Moura

Palestrante Motivacional

Coach Profissional

Organizador de eventos e cursos técnicos

Terapeuta floral e reiki

(Texto para a “Revista Sempre Jovem”)



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