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  • Daniel Moura

TOLERÂNCIA

"Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne"

(Ez 36,26)


Todos queremos ser aceitos e sabemos como é bom ser acolhido e compreendido. Mas quando se trata de aceitar o outro, as dificuldades aparecem. Temos medo de que o diferente afete nossas convicções, abale nossas estruturas tão sedimentadas em princípios e valores.

Muitas vezes, em nome de uma verdade que se pretende absoluta, as pessoas se esquecem de que não somos donos desta terra, só estamos de passagem por ela e precisamos nos unir para aprender, crescer e partir - ou voltar para o lugar de onde viemos.

Comportamentos dogmáticos geram intolerância, atitudes de ódio e agressividade irracional entre irmãos, porque pensam diferente, agem diferente, sentem diferente, crêem diferente... O discurso do "nós" é substituído pelo triste "nós e eles". E um abismo se instala, uma rachadura profunda nas relações, antes tão gratificantes, fere a convivência de famílias, amigos, comunidades e países.

Não podemos deixar que a intolerância cresça dentro de nós, ampliando nossas distâncias, pois nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diferentes.

A tolerância é possível, já que tudo nasce no coração do homem. E o coração do homem pode sempre ser transformado, renovado, reconduzido ao estado original, aberto às mudanças, às diferenças, à unidade que fortalece a identidade individual.

Eu não me diminuo porque recebo o outro diferente de mim, mas ganho estatura com aquilo que ele traz de inusitado. Preciso apenas me conhecer mais, me respeitar mais, me amar mais, para não me perder no universo maravilhoso que é o outro. O meu universo mais o universo do outro geram a vida. É soma, não é subtração.

Para ser tolerante, como escreveu o poeta Fernando Pessoa, é necessário aprender a ouvir na essência, ou seja, procurar compreender não o que o outro diz ou pensa, mas ter empatia. Posso discordar dele, o que não me impede de compreender o que ele sente.

Não preciso aceitar as atitudes erradas, os crimes, as maldades. Tolerância é uma virtude, não uma omissão ou uma aceitação passiva do que não está certo, do que nos priva da nossa humanidade. Como virtude, ela precisa construir pontes e derrubar muros, estender os braços para abraçar, não para apontar o dedo, compreender para acolher, não para julgar.

Já que nunca pensaremos todos da mesma maneira e precisamos conviver com as diferenças, o exercício da tolerância passa inevitavelmente pelo perdão, que transforma um inimigo em amigo, devolve a paz interior e regenera o coração.

Daniel Moura


(37º Encontro da Feliz Idade)

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