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  • Daniel Moura

ILUMINAR

“Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia. Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia. Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar...” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)


Luz e trevas. Dia e noite. Sol e lua. Alegre e triste. Homem e mulher. Quente e frio. Doce e salgado. Inspiração e expiração...

Nossa vida possui a dualidade que permeia toda a criação. Os livros sagrados falam de uma criação voltada para a harmonia, para a ordem. A partir de uma dualidade que respeita as diferenças, surge uma tendência para a unidade. É a unidade na diversidade. Os opostos se encontram: dois pólos magnéticos iguais se repelem, dois pólos magnéticos desiguais se atraem. Há um eros cósmico, uma natureza nupcial, casada.

No reino vegetal, a botânica nos revela que a maioria das flores possui um órgão masculino, chamado androceu, e um feminino, chamado gineceu. O encontro entre eles é facilitado pela água, pelo vento, pássaros e abelhas. Estas, retiram delas o mel e propiciam a polinização.

No reino animal, essa atração se expressa principalmente através do sexo, do cio, da fecundação. Tudo pelo instinto de preservação, pelo prazer, e por que não dizer, em busca do mel. Mesmo os animais humanos fomos criados com uma tendência incrível para a unidade. No primeiro livro da Bíblia Sagrada, vemos que a solidão foi a primeira coisa que Deus viu que não era boa - "Não é bom o homem estar só" - e nos criou homem e mulher, com Instinto, razão, amor e prazer. Não é por acaso que esperamos ansiosos a tão sonhada "lua de mel".

Nessa natureza nupcial, os opostos se atraem ou se sucedem, num equilíbrio perfeito pela alternância de tempero e renovação. Se você parar para pensar, verá que vivemos sempre um paradoxo: somos parte de uma natureza casada, mas dual, contraditória, mas complementar. Por isso, dizem que amar é dar ao outro o direito de ser diferente.

Em tudo o que existe, porém, há um traço fundamental que nos iguala, nos aproxima, nos irmana: a procura pela luz. Toda a criação se volta para a luz, reverencia a luz e se alimenta de luz. Somos todos girassóis à procura de luz.

Eu tenho comigo que essa nossa busca essencial, essa nossa avidez pela iluminação, seja fruto de um contraditório sentimento de frustração: somos chamados a iluminar, mas não temos luz própria. Somos planetas humanos que refletem a luz de um outro sol. Precisamos dessa luz divina para nos acender e ascender. Iluminados, ensolarados, amanhecemos para uma vida mais plena, cheia de sentido, encantos e realizações.

Quando descobrimos que o sol poderá brilhar todos os dias a partir de nós, e em nós, não tememos mais a noite, nem a dor, nem a morte. Criamos as condições para transmitir a luz, acender os ambientes, embelezar o ar, brilhar, iluminar.

Se é certo que a sombra existe por causa da luz, é certo também que a luz expulsa as trevas, e que só ela é capaz de dar cores e nomes a tudo. No coração da sombra existe a luz.

Chega um momento em nossa vida em que essa realidade se torna mais palpável. É quando percebemos que precisamos transmitir a luz do conhecimento adquirido, da experiência vivida, para aqueles que chegaram depois de nós, e que estão no meio de nós. Girassóis crianças, girassóis adolescentes e jovens, adultos talvez, mas que ainda não perceberam a direção do sol. Descobrimos que nossa maior missão é deixar o mundo mais lindo, as pessoas mais lindas, como um legado de amor e cuidado fecundos. Plantar as sementes da alegria e da esperança no coração das gerações futuras - mesmo correndo o risco de nunca colher - na certeza de ter semeado, contribuído, compartilhado.

A maturidade nos ensina, após tantos contrários vividos, amanheceres e entardeceres, dias sombrios, bosques ensolarados, que agora poderemos ser vaga-lumes e pirilampos encantados nas noites de tantos desencantos.

Viver é iluminar... é ser luz.


"Brilhe a vossa luz diante dos homens..." (Jesus)

Daniel Moura


(36º Encontro da Feliz Idade)

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