Rasgo dentro de mim
meu coração machucado
e abro meu peito
ao despertar do amanhã.
Todas as feridas que me doem
terão a sangria das enchentes
e os meus olhos, soltos,
poderão enxergar mais longe,
mais nítidos,
o horizonte que me espera.
Arranco de mim,
como se arrancam as pragas
- braço forte, vontade feroz -,
todo o incômodo do ter,
para acordar livre
das amarras que me prendem
ao chão das certezas,
diluindo aos poucos
o pesadelo do ontem,
do absurdo, do que passa.
Mergulho de corpo inteiro
no infinito do sentir
e experimento o vôo errante
no imprevisível, no inusitado.
Aí, então, começará o sonho.
Aí, então, eu já serei o sonho. . .
- Não precisarei mais sonhar.
Daniel Dezembro/86